A gente tem que ter muito cuidado com o que deixa na mão de despreparados

Esse poderia ser um texto sobre o absurdo que foi a maneira como a nossa polícia militarizada e treinada para considerar o cidadão como inimigo tratou os manifestantes no ato contra o aumento da tarifa ontem no centro de Belo Horizonte.

Mas não é.

É sobre como alguns dias atrás alguém colocou um grampeador na minha mesa do trabalho.

E sobre como eu sou agitado e não consigo ficar muito tempo fazendo a mesma coisa.

E sobre como eu detesto falar no telefone por muito tempo.

E por fim sobre como ontem, durante uma ligação particularmente longa com um fornecedor prolixo eu joguei Candy Crush, depois rabisquei meu caderno, depois tirei a borrachinha da ponta do lápis e então comecei a batucar na mesa com o grampeador.

E aí eu acabei grampeando meu próprio dedo.

E agora acho que vou ter que ir ao médico porque tá doendo pra caralho e eu acho que acertei algum tendão.

Grampeadores, bombas de gás lacrimogênio, pretextos da lei.

A gente tem que ter muito cuidado com o que deixa na mão de despreparados.


Que perigo, esse aumento de ônibus

E no fim das contas a passagem de ônibus subiu mesmo, hein pessoal de Belo Horizonte?

Essa prefeitura desmoraliza a torcida do Atlético. Não adianta liminar na justiça, não adianta auditoria, não adianta protesto. Se a gestão municipal tapar os olhos e os ouvidos e gritar “Eu Acredito!” as empresas de ônibus fazem o que elas quiserem.

Agora, eu tenho um conselho pras empresas de ônibus. Pelo menos no primeiro dia útil depois do aumento, o serviço deveria funcionar melhorzinho. Explico:

Hoje eu passei vinte e oito minutos esperando um ônibus que deveria passar de dez em dez minutos. O quadro de horários do ponto, que SEMPRE marca o horário PERFEITAMENTE, estava “sem conectividade com o servidor”, então eu resolvi cronometrar no meu relógio mesmo. Depois que ele passou, eu passei mais quarenta e três minutos dentro dele para fazer um trajeto que se faz em vinte. Isso totaliza um tempo total de uma hora e um minuto em que eu fiquei a toa, sem nada pra fazer. E já diria o ditado: “cabeça vazia é oficina do diabo”.

Nessa uma hora e um minuto eu fiquei por conta do ônibus, pensando no ônibus, em quanto é horrível o serviço de ônibus e no aumento do ônibus. Fiquei lá em pé, olhando para a catraca. E aí eu reparei uma coisa:

catraca-de-onibus

A catraca fica entre umas estruturas tubulares de metal muito próximas umas das outras né? Pois é.

Aí olha que perigo: vocês ficam aumentando a passagem e deixando o pessoal esse tempão dentro do ônibus sem nada pra fazer, é muito tempo cultivando a indignação, o povo pode começar a ter ideias erradas.

Por exemplo: vai que o movimento estudantil, ou o pessoal do Tarifa Zero, tem a ideia de comprar aqueles cadeados de bicicleta, tipo esse aqui:

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Esses cadeados são fáceis de conseguir. Custam menos de dez reais no Mercado Livre (é sério, ó: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-685001162-cadeado-espiral-cabo-de-aco-encapado-para-bicicleta-_JM). Vai que esse pessoal mais baderneiro resolve um dia armar um protesto diferente e, bem na hora do rush, começa a acorrentar as catracas dos ônibus numa ação contra esse aumento abusivo da passagem?

Imagina o transtorno?

Então fica o conselho aí pra vocês. Vamos deixar o povo menos tempo no ônibus e evitar abrir espaço pra esse tipo de bobagem. Imagina se o pessoal que vai protestar tem essa ideia? Sorte suas que eu sou cidadão de bem.