O Marketing de Indignação

Se tem uma coisa que eu nunca entendi é abacaxi na pizza. É pegar duas coisas que são muito boas e transformar numa coisa absolutamente repugnante.

Introdução feita, vamos à explicação da analogia: eu gosto muito de internet. Eu gosto muito de textos irônicos. Mas ultimamente a mistura desses dois está uma coisa de fazer vomitar. Tudo por causa de uma nova estratégia de comunicação digital que está sendo muito utilizada por movimentos que defendem causas diversas e vêem na internet o melhor canal para ganhar visibilidade e novos adeptos. E eu gostaria até de nomear essa nova estratégia: o marketing de indignação.

Funciona assim: você pega algo que alguém escreveu/disse na internet. O que a pessoa disse está relacionado com a sua causa. Você distorce o que a pessoa disse, escreve um manifesto de resposta, faz uma imagem engraçalóide no facebook ou algo que o valha, finge estar indignadíssimo e tchanam! Divulga sua causa.

Exemplo: eu tenho uma teoria sobre o dia 21 de dezembro. Na minha opinião, a Nasa não deveria desmentir o fim do mundo afim de evitar suicídios. Se você é imbecil de acreditar no fim do mundo a ponto de se suicidar, o planeta está melhor sem você. Pra mim é a seleção natural em seu pleno funcionamento. Aí vem um engajadão do Centro de Valorização da Vida, lê o que eu escrevi, diz que eu estou estimulando o suicídio e faz todo aquele auê nas redes sociais.

Vários já passaram por isso, com textos claramente irônicos pretensamente interpretados ao pé da letra por fiscais de pêlo em ovo. A última fornecedora de mídia para o marketing de indgnação foi a blogueira Cris Guerra, que no último parágrafo desse texto http://www.hojevouassim.com.br/2012/12/17/bicicletas-no-horizonte constata o que qualquer pessoa com um mínimo de senso de observação constataria: as ciclovias de Belo Horizonte, além de mal planejadas, são completamente sub-utilizadas. Ponto.

Mas para a liga dos defensores de bicicletas é muito mais negócio falar que ela é contra os ciclistas, que blogueira de moda não devia se meter a comentar mobilidade urbana, que ela é uma alienada dentro do seu carrinho e blá blá blá.

Aí nessa discussão (como em todas as outras causadas pelo marketing de indignação) entram os defensores xiitas dos carros de um lado, os defensores xiitas das bicicletas do outro e a pessoa razoavelmente consciente, que consegue ponderar prós e contras dos dois lados, se cansa e vai embora, enquanto o prefeito que colocou aquelas ciclovias pra inglês ver lá ri da nossa cara.


Porque a profissão de meteorologista tem que acabar no Brasil

Eu estou cansado de ser pego desprevenido pelas mudanças climáticas desse nosso país tropical abençoado por deus. E nem adianta falar que a culpa é do aquecimento global, da poluição, das mudanças climáticas, el niño, la niña, el perro e el carajo: a culpa é dos meteorologistas e suas previsões do tempo fajutas. Acompanhe o raciocínio.

Você está em casa se preparando pra sair, quando pensa “opa, vou dar uma olhadinha na previsão do tempo do jornal pra ver se levo um casaco, um guarda chuva ou um protetor solar”. Você liga a TV no jornal e a mocinha do tempo (ou o próprio meteorologista) diz o seguinte:

“Sol entre nuvens com possibilidade de chuva no decorrer do dia. Mínima de 22 e máxima de 35 graus.”

Se você se lembrar das aulas de geografia da quinta série, vai se lembrar de que o Brasil fica no meio de uma placa tectônica. Isso significa que aqui não tem terremotos, tsunamis ou vulcões. Aqui também não tem furacões, ciclones, tufões nem nada. Aqui não neva (tá, neva. Mas você entendeu). Ou seja: a única coisa que pode acontecer nesse país é fazer sol ou chover! Aí me vem o sabichão do meteorologista com esse “sol entre nuvens com possibilidade de chuva”. Qualquer imbecil que olhar pra cima faz essa previsão. E ainda tem a temperatura mínima e a máxima que variam em média dez graus. Isso abrange tipo, TODAS as temperaturas de um planeta habitável.

E as peripécias do senhor do tempo continuam. Eis que surge na tela um mapa da pátria amada, idolatrada, salve salve, com uma faixa azul que vai de Manaus à Santa Catarina. No que nosso intrépido cientista manda essa:

“Um massa de ar frio que vai de Manaus à Santa Catarina pode provocar chuvas na área mostrada no mapa”.

Meu amigo, sabe quantos quilômetros tem de Manaus à Santa Catarina?! É céu pra caralho! É lógico que pode chover nessa área. Quer dizer então que se eu estiver no interior de Goiás é melhor eu levar o guarda chuva né, já que PODE chover de Manaus à Santa Catarina.

Mas não para por aí. Porque chega o verão e com ele as pancadas de chuva. E é aí que o meteorologista solta a pérola:

“Em um dia, choveu o previsto para todo o mês de dezembro.”

Ora, seu filho da puta. O seu trabalho não é fazer a PREVISÃO do tempo?!?! Se choveu em um dia o previsto para todo o mês tem alguma coisa errada, não acha não? Ou você garante que então não vai cair mais nenhuma gota do céu, já que choveu tudo que o garotão da mamãe previu que ia chover no mês?! Assuma suas responsabilidades.

E se isso não te convenceu que a profissão de meteorologista tem que acabar, é só pensar que hoje existe uma nova mídia chamada TV corporativa, que nada mais é que aquela tevezinha que fica passando notícias e frivolidades nos elevadores comerciais.  De minuto a minuto você tem assuntos como o placar do futebol, o último flagra da Miss Bumbum, o que estreou no cinema e até mesmo a cotação do Euro na Grécia. Então você não precisa mais do meteorologista nem pra responder o clássico “será que chove hoje?”

Nota do autor: não vou nem perder meu tempo explicando que isso é um texto sarcástico. Contra chatos não há argumentos.